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Da pureza à insaciabilidade. Para sempre.

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  No momento do beijo no colo, a mão forte na cintura correu sentido à volúpia posterior, arredondada, macia e empinada. Arrancou-lhe delicadamente a lingerie que resguardava aquela fonte de prazer há tanto reprimido. Latejava. Doía. Era carne em seu estado mais latente, agora com um toque de angústia, mas demasiado prazer. Um hímen que parecia estar sendo dilacerado, estava sendo, na verdade, rompido com lentidão, carinho e delicadeza. Enxarcava. Sentia. Entre as coxas, era temperatura quente que escorria. Seria normal tamanha quantidade de fluído, para lubrificar orifício estreito como tal? Sentia-se embaraçada, ao ouvir o gotejar no chão de madeira oca. Cada gota era eco, entrando intensamente pelos ouvidos e sendo registradas, uma por uma, em sua memória. Para ela era vergonha; para ele, pertinente. Pompoava. Tremia. O abrir e fechar, deixando-a excitada e, concomitantemente, incomodada: Um movimento lento, não uniforme: a contração apertava, a ponto de sentir lábios se tocarem. P

Árvores soterradas pelo adeus.

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Frieza. O ato de demonstrar a transformação de um sentimento tão belo em apatia é algo realmente atroz. Podem ser de várias formas, e por razões que até Alá duvida. Deus. O Universo. Vira um verso imerso. O inverso de um verso. Um verso invertido. A sensação de bem querer em não querer; O orgasmo excepcional em memória inesquecível; O ineditismo mais impensado em mera lembrança orgásmica. A sensação de autenticidade totalmente desfigurada; A música inesperada que não mais virá. O querer - do inusitado em nunca mais. Pensar na troca de olhares, fluídos, salivas e palavras - pura reminiscência. Memorar que antes do descaso, só pelo aguardar da comutação, tudo era tão vívido, terno e colorido. O saber que uma nova fase vem, um novo processo se inicia - malditos processos. Obliterar. O preterir. Não mais preferir. Não ter mais o arbítrio. Livre? Atado arbítrio. De nada adianta eleger sem ensejo. Não mais compete ser o cuidado e o desejo. Presente sem presença. Pretensa, quase que com ofen

Tramela do dialeto do beijo.

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Suave, úmida, macia. Saiu sem rumo - raspando levemente os dentes - pelos lábios carnudos, e, sem querer, tocou os dedos que rondavam por ali. A saliva cresceu, mas era um corpo todo que tremia. A mistura se fez cada vez mais intensa, e trouxe, vagarosamente para dentro, o que era apenas um carinho. O sorver foi forte, deixando algumas gotas de água no canto da boca, e então outros dedos se deixaram levar pelo deleite. O ruído do gemer vibrava por todo o interior, da garganta à ponta, e sentia no indicador a pulsação do sangue que corria e atravessava aquela foz. Ela ainda se fazia voraz e trêmula, em busca de outro local onde pudesse se encaixar. Encontrou nuca e pescoço, com sabor do banho tomado pela manhã, misturado com o adocicado gosto do suor de prazer. Percorreu aquele caminho como se não houvesse mais para onde ir, com veemência e fome, fazendo arrepiar toda pele, e, ao topo, encontrou a orelha. Adentrou a brecha, e se fez explorar toda a cavidade, e deixando, em todos os p

O nome do vento

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  O calor do dia, que fez milhares de corpos acostumados com corações frios suarem em seus pontos mais íntimos, tornou-se penumbra, com ventos que cortavam peles e poros. As portas rugiam perante tamanha força, e as venezianas não davam conta de conter nem o éolo que entrava, nem o desfastio de prazer que se seguira. Nunca o quisera. Mais do que isso: jamais pensara possível existir tamanho desejo, quiçá por um homem sensível como aquele. Como era doce. Seus fios de cabelo negros, contrastavam com a pele alva e macia, e os olhos marcavam a quem tivesse a chance de ver. O caminhar era uma dança, que fazia mover cada parte daquele corpo, como música para os olhos de quem inalava o acre nectarino. A boca, desenho de Édouard Manet, sempre cheia de brilhos. A voz rouca e delicada - ah, aquela voz! - deixava a marca na psiquê de quem tinha o raro prazer de apreciar qualquer pronúncia, prosa, gemer ou verso. E tudo era tão verso, que quando fez tocar esta mesma boca no lábio

Malditos processos.

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Ah, os processos... O de restauração não acaba. O criativo não flui. Por estar vivendo bons momentos, se negou a crer que atravessava uma ponte: queria desviar deste tortuoso caminho que passava por grande reforma. Como é fácil apontar falhas e aconselhar (!) pessoas queridas sobre as dificuldades que tem de se esquecer de algo ou alguém, quando temos nosso coração leve e cheio de alegria. E quão difícil é quando perdemos alguém – talvez aquela mesma que tentamos ajudar – quando nos distanciamos. Ou, pior: quando esta querida pessoa decide se afastar. Curioso como é fácil negar para nós mesmos algumas situações da vida quando se tem controle da mente - quando está tudo bem. Curioso, também, é sermos tão passíveis de perder o controle desses próprios pensamentos, quando as coisas não estão como gostaríamos... Não importa quanto tempo dure: se foram 6 meses, ou 15 anos; Não importa a definição da relação, ou se deu tempo de realizar o que se planejou. O fato é que dói. O hábito de “gua

Distância que vira matéria

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Distância : substantivo feminino definido na língua portuguesa como "espaço entre dois corpos". Na geometria, o "comprimento do segmento de reta entre dois pontos". Entre dois corpos ou dois pontos - retos ou não - a distância é sempre sinônimo de melancolia, benesse, amargor. Na física, a resolução do problema da distância pode ser facilmente resolvida com o MRU, o movimento retilíneo uniforme, para o encontro entre os corpos e/ou pontos. Os físicos e seus simpatizantes que me perdoem, mas, no mundo real, o MRU não é solução para este impasse. Na vida, dois corpos podem ocupar o mesmo espaço: Na cama, no sofá da sala, na mesa da cozinha, se transfazendo em um só: Um singular, um homogêneo; um uniforme, um coeso, um harmonioso, um a um, em momentos que físico nenhum explica a química, e matemática alguma justifica dois virarem esse um só; uma geografia que entra em qualquer livro de literatura, e vira história com a mistura de toda a anatomia... Basta

Cores em sensAções

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Arco-íris: Fenômeno óptico e meteorológico que separa a luz do sol em seu espectro contínuo quando o sol brilha sobre as gotas de chuva. Faça chuva ou faça sol - ou chuva com sol? - ele estava sempre ali. Era onipresente. Naqueles dias, aquele ser se transformara em céu: era possível sentir o efeito da ocorrência, circulando pelo corpo, num mar colorido de emoções: O vermelho palpitava nas veias, fazendo o sangue – da mesma cor – encontrar aquele coração mole, e latejar sentimento por todo lado;  O laranja - como a fruta doce na boca - escorria, e se misturava a outros fluidos, tão forte e mágico como a mistura de luz e água, tal qual a formação do fenômeno no céu;  O amarelo, pela manhã, raiava como sol nos cabelos diante do pinheiro verde, com sorriso dos olhos e os pés no chão frio;  Já o verde, molhava o corpo ensaboado, trazendo uma calma incomparável, após longa jornada de prazer; O anil ardia na cama respingada de suor, e depois passeava pelos cômodos de forma nat

Devasso sentimento

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A troca de olhares era nítida e desmedida: enxergaram mais do que retina. Muito mais. E a cada olhar aniquilador, transcorria em seu corpo uma energia luxuriosa. Chegou a pensar ser tamanha indecência após longo período de absoluto menoscabo. Por tempos, a gana de saciar aquele desejo impetuoso os tomou, ainda que não o demonstrassem, ou mesmo identificassem com precisão. O encontro foi casual, surpreendente; todavia, amplamente desejado. Partiu dela. Sentia entre as grossas coxas a lubricidade, e a cada sentir, na intenção de procurar burlar seu bel prazer, pressionava as pernas, fazendo gerar o pompoar: Assim, de tempos em tempos – ainda a cada troca de olhar – se via com a boca entreaberta, trêmula, que fazia a língua correr pelos lábios. Traía, assim, a si mesma, pois a saliva úmida e quente da língua na boca vacilante a fazia querer devorá-lo com gana. Não se tem conhecimento sobre o prazer dele neste momento, pois tratava-se de um clássico boêmio, acostumado a f

The Great Gatsby - Final scene

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        “ Quase todos os grandes estabelecimentos já estavam fechados e dificilmente se avistava qualquer luz exceto o brilho impreciso, móvel, de um ferryboat , a cruzar o Estreito. E, à medida que a luz se erguia, as casas, desnecessárias, começaram a dissipar-se, até que, pouco a pouco, me pus a pensar na velha ilha que ali florescera em outros tempos, ante os olhos de marinheiros holandeses – um seio fresco, verde, do Novo Mundo. Suas árvores extintas – as grandes árvores cederam lugar à casa de Gatsby – tinham servido de motivo, sussurrantes, ao último e maior de todos os sonhos humanos; durante um breve momento de encantamento, o homem deve ter ficado com a respiração em suspenso em presença deste continente, compelido a uma contemplação estética que ele não compreendia nem desejava, face a face, pela última vez na história, com algo proporcional à sua capacidade de espanto.        E, enquanto lá me achava a meditar sobre o velho, desconhecido mundo, lembrei-me da surpresa

Os amOres que a vida dá

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Não teme. Aprendeu, com alguns [vários!] tropeços da vida, a ser ela mesma, e amar. Ganhou, ainda que duramente, consciência de sentir e ter o poder de controlar qualquer um desses sentimentos passíveis, antes, de dor. Se ri e se diverte; Se ama, e ama. Mas sabe que esses amores que a vida traz são, em grande parte, passageiros. Porque nem sempre precisa ser pra sempre. Sim, é bom quando o é: Um amor pode ser amigo, pode ser paixão, pode ser companhia e emoção. E, às vezes, a gente nem sabe o que sente. Ele pode estar e, de repente, não mais. E há de se respeitar isso. Porque temos de ser gratos, mas ninguém deve ser obrigado. Já dizia Rubem Alves: “ Não se podem prometer sentimentos. Eles não dependem da nossa vontade. Sua existência é efêmera. Como o voo dos pássaros”. Portanto, resta-nos sentir e aproveitar, cada momento único, sem pensar no que há de ser. Porque nem sempre amar sozinho é ruim. Permita-se, doe-se, sinta e faça. E não se surpreenda

O abismo de absinto

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O que diz o vento quando queima a pele macia e se vai, sem mesmo dizer adeus? Por quantos cheiros passamos quando sentimos o sofrer? A aura é de cor escura, fria. Vazia. O caminhar pelos girassóis quebrados arrancam gemidos de uma dor dilacerante, vinda do fundo do ser. O derrapar faz cair qualquer gota de orvalho existente na planta da alma. O som agonizante da morte sem sorte, bem forte faz zumbir tímpanos e trompetes. O chão some atrás de cada passo, obrigando as pessoas a irem em frente, independente de desejo ou sucesso. O sangue pulsa num pulso que anseia ser cortado. A escada que é galgada não tem sequer laterais para pular, ou corrimão para apoio. Tropeços. O desejo de mudar, sumir, torna-se eterno querer de um sonho que se esvai. Os anjos chicoteiam as costas, enquanto as harpas tocam incansavelmente. A crer: eles, os anjos, nos desejam. Seremos companhia para seus vôos? Eles perguntam: “Onde guardas os amores não correspondidos que a vida lhes dá?”

Opressão sem fim

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Olhou-se no espelho: Viu medo. Havia uma sensação de timidez, porque como há, neste mundo, motivos para senti-lo! Seria justo este temor? O pranto. O juízo feria o coração, que batia fortemente a pensar que não poderia verbalizar tal emoção. Tudo estava claro, expresso. Óbvio. Acreditou ter o direito de autonomia da personalidade, mas, em dado momento, via tal capacidade amplamente restrita. Até que ponto estava livre para ser? Até quanto poderia ter? Até onde poderia ir? Até quando? Como pode ser assim tão belo e puro, e tão cruel e aniquilante? Porque arranca tantos sorrisos e tantas lágrimas, sem ser dita sequer uma palavra? A dolorosa falta de dizer, justo para quem tanto fala, expressa. Constatou engolir o choro ser mais fácil que oprimir tal afeição. A eterna omissão do gritar rodeava sua mente, e deixava-a amargamente perdida. Sem chão. Sem paz. Lembra-se do céu estrelado e da lua cheia por detrás dos galhos; Dos sons e do calor atravessand

Doce Poseidon

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Encontrava-se só. Julgava-se intragável. Presumia ser suprema a opinião de que sensibilidade era sinal de fraqueza. Mal sabia aquele ser estupendo que tal sensibilidade fosse tão rara. O gelo da noite cortava a pele quando lhe disseram que encontraria uma parte inteira. Porque de meio ninguém vive. Ninguém vive meio. Viver meio? Ninguém. Decretou aquele discurso fadado ao fracasso. Ah, se soubesse quão divina é a capacidade de sentimentos favoráveis! Quão inabitual um ser corpulento como ele, transformado por um ser universal, em entusiasta da vida. O olhar profundo, em tom terroso. O cabelo difuso, o sorriso irônico. O gosto considerado furioso, quase apoplético. A suposta ira transformada em música hostil, tinindo baquetas em pratos rasos e rígidos e ruidosos. O impulso descomunal para se manter firme em seus objetivos, desafiando qualquer restrição de ordem mundial. A audácia e bravura de, num ímpeto, vestir-se de dama, desprezando qualquer crít

O se perder para se encontrar

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O labirinto da vida: Quantos lados, e curvas, e abismos! Tão cheio de rotas e direções. Tão fácil se perder. Há tempos o questionamento para si era o mesmo: o caminho estava certo? Havia, de fato, um caminho absoluto? Afinal, para onde vamos? Uma coisa tinha certeza: O que havia optado não teria fim. Sim, era um eterno percorrer. E como caminhar sem rumo nos cansa! Como tira o gosto das coisas! Das pequenas e das grandes. Os sabores da vida. Olhava para o alto, e via apenas cimento. Direcionava, então, o olhar para baixo: Só havia terra. À sua frente, grandes muralhas. Para trás não olhava. Afinal, o atrás não existe mais. Aromas, cores, toques, temperos. Nada. Então perde-se. E é tão infinito perder! Será necessário se perder em um labirinto para se encontrar? Porque, sim: quando perde-se, percebe-se que se ganha. Ganha vida, ganha vontade, ganha novo. E como é bom ganhar o novo! Ora, como sentia falta de uma boa pros

Os cárceres da vida

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"Deve ser difícil ser um presidiário”. Quem nunca tentou entender o que se passa na cabeça de um detento? Privados da luz do dia, do sereno da noite; Da liberdade, do amor, do viver. A mesa - que, talvez, um dia tenha sido farta - não há. Cama, relacionamento, paz. Não. Todavia, esquecemos que esmagadora maioria de nós, aqui fora, em plena (?) autonomia de nossas vidas, nos submetemos à um cárcere pessoal. E há tantos deles. A prisão física, já supracitada, está conectada, como bem sabemos, a um delito – tenha ele acontecido ou não – pois, lamentavelmente, a justiça ainda é cega. A estes, resta apenas esperar o tempo passar, procurando manter a sanidade mental – como que em uma quarentena. Nos tempos atuais, sentimos – ainda que minimamente - na pele, o que é isto. E, portanto, temos consciência do quão difícil é manter esta sanidade. Sempre é. Existem pessoas que se aprisionam aos bens materiais. Estas, acreditando que estão fazendo investiment

Sonata da dor

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No momento em que se apagou no ar, virou nada. Luz que alumiava vida, agora é penumbra a caminho da escuridão. Não ouviste recentemente que palavras fora de ordem – aquelas, quando ditas sem pensar - podem levar à interpretações equivocadas? Pois agora teve fim às incertezas que enfrentava. Viu, de fato, tua planta ser esquecida, bem como teu cheiro. Pensaste mesmo ser genuíno. Moça tola. Foste nada. Não passaste de uma brincadeira, um conforto, um consolo. Não deve, então, te parecer tão forte. Permita-te este luto de um óbito sentimental e sensorial. Assinta que tua mente balança. Deixa-te escorrer água no rosto. Pensa. Sinta. Doa. Afinal, após grande penitência, estiveste tão alegre, bela mulher. Levanta, então, teu olhar atento, e começa a contemplar a vasta vida que lhe resta. Esquece-te da figura divinal e sente a bem aventurança que tens pela frente. Segue tua leitura. Bebe de teu whisky.  E que seja teu, e só teu. E planta