Cores em sensAções



Arco-íris: Fenômeno óptico e meteorológico que separa a luz do sol em seu espectro contínuo quando o sol brilha sobre as gotas de chuva.
Faça chuva ou faça sol - ou chuva com sol? - ele estava sempre ali. Era onipresente.

Naqueles dias, aquele ser se transformara em céu: era possível sentir o efeito da ocorrência, circulando pelo corpo, num mar colorido de emoções:
O vermelho palpitava nas veias, fazendo o sangue – da mesma cor – encontrar aquele coração mole, e latejar sentimento por todo lado; 
O laranja - como a fruta doce na boca - escorria, e se misturava a outros fluidos, tão forte e mágico como a mistura de luz e água, tal qual a formação do fenômeno no céu; 
O amarelo, pela manhã, raiava como sol nos cabelos diante do pinheiro verde, com sorriso dos olhos e os pés no chão frio; 
Já o verde, molhava o corpo ensaboado, trazendo uma calma incomparável, após longa jornada de prazer;
O anil ardia na cama respingada de suor, e depois passeava pelos cômodos de forma natural e sutil;
O azul - que se encontrava sempre na mesa de cabeceira - era o que faltava para apagar todo o fogo e acalentar corpos trêmulos, enquanto o roxo... 
Ah, o roxo era difícil controlar: ele temia a perda. 

Mas o arco-íris nunca dura muito tempo.
De repente, o sol se vai, e fica só a chuva. 
De repente, essa chuva vira tempestade, assim, sem mais nem menos, sem explicação: torna-se apenas um emaranhado de palavras desconexas, enchendo aqueles olhos de mágoas - Seria possível a formação de uma tempestade de lágrimas? Ou um arco-íris preto e branco?

E, sempre acontece: de uma hora pra outra, todas as cores tornam-se apenas cores.
Elas já não brilham no tom de antes...
Não vibram, se apagam, como um quarto na penumbra, sem odores, fluídos ou gemidos de prazer. Apenas um quarto escuro.
Repentinamente, elas - as cores - não soam mais como música leve e alegre logo ao acordar: 


O vermelho deixou de ser amor; 
O laranja não era mais prazer;
O amarelo.. ah, o amarelo! Bons tempos em que ele era sua alegria.
Quando o verde deixou de ser paz, percebeu que tudo se esvaía. 
O anil era apenas anil - não mais bem estar de uma manhã de Outono. 
O azul virara apenas água, numa garrafa, dessas qualquer, deixando de ser alívio.
E o roxo continuou sendo roxo: ciúme e insegurança em tempos brutos.

O grande problema no arco íris é o fato de o roxo ser o tom mais próximo ao preto: Ele toma conta, e na mistura de todas as cores - e sentimentos mal resolvidos - ele sempre predominará.
E quando você vê, tudo se foi.
Uma lástima a existência desse roxo...

Desnecessário.

[Jade Rosa] - 25/06/2020

*Imagem: "The rainbow" - Joseph Willian Turner (1775-1851)



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