O nome do vento

O calor do dia, que fez milhares de corpos
acostumados com corações frios suarem
em seus pontos mais íntimos, tornou-se
penumbra, com ventos que cortavam peles
e poros.
As portas rugiam perante tamanha força,
e as venezianas não davam conta de conter
nem o éolo que entrava, nem o desfastio
de prazer que se seguira.
Nunca o quisera.
Mais do que isso: jamais pensara possível
existir tamanho desejo, quiçá por um homem
sensível como aquele.
Como era doce.
Seus fios de cabelo negros, contrastavam
com a pele alva e macia, e os olhos marcavam
a quem tivesse a chance de ver.
O caminhar era uma dança, que fazia mover
cada parte daquele corpo, como música para
os olhos de quem inalava o acre nectarino.
A boca, desenho de Édouard Manet, sempre
cheia de brilhos.
A voz rouca e delicada - ah, aquela voz! - deixava
a marca na psiquê de quem tinha o raro prazer
de apreciar qualquer pronúncia, prosa, gemer
ou verso.
E tudo era tão verso, que quando fez tocar esta
mesma boca no lábio de quem trocava só olhar…
Caiu a noite, e a lua fez tocar o mar.
Os nus, feito a Vênus de Botticelli,
eram pura sinergia, tornando-se, então,
letargia, pelo prazer sem medidas.
E o vento cantou, pairando sobre aquela
montanha de corpos delirantes, isolados
de uma cidade ora silenciosa, que agora
ofegava prazer, com as delícias dos gemidos,
ecoando em ruas e bueiros, prédios e canteiros.
O nome daquele vento, não se sabe.
O que se sabe é que, embora forte a ponto de
ricochetear entre a selva de pedras, não fora suficiente para abafar o calor e o som daquele lugar de amores.
Imagem: "Noite Estrelada", de Vincent Van Gogh, 1889.
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