O abismo de absinto


O que diz o vento quando queima a pele macia e se vai, sem mesmo dizer adeus?
Por quantos cheiros passamos quando sentimos o sofrer?
A aura é de cor escura, fria. Vazia.
O caminhar pelos girassóis quebrados arrancam gemidos de uma dor dilacerante, vinda do fundo do ser.
O derrapar faz cair qualquer gota de orvalho existente na planta da alma.
O som agonizante da morte sem sorte, bem forte faz zumbir tímpanos e trompetes.
O chão some atrás de cada passo, obrigando as pessoas a irem em frente, independente de desejo ou sucesso.
O sangue pulsa num pulso que anseia ser cortado.
A escada que é galgada não tem sequer laterais para pular, ou corrimão para apoio. Tropeços.
O desejo de mudar, sumir, torna-se eterno querer de um sonho que se esvai.
Os anjos chicoteiam as costas, enquanto as harpas tocam incansavelmente.
A crer: eles, os anjos, nos desejam. Seremos companhia para seus vôos?
Eles perguntam: “Onde guardas os amores não correspondidos que a vida lhes dá?”
E nós perguntamos: “Porque a vida nos dá o que dá?”
Como aceitar o tortuoso caminho de ensinar alguém a ser, se nem mesmo sabemos quem somos nós, e por que aqui estamos?
A fuga da vida está engarrafada.
Qual a diferença entre o paraíso e o inferno, se em ambos ficaremos longe dos que amamos?
E como é amarga a ausência.
A passos largos tenta-se correr, para alcançar um sucesso que não virá, pois, durante jornada, as pedras são muitas. E grandes. Não há passagem.
E o chão, lá atrás, ainda se vai a cair, obrigando um a um a escalar, desequilibradamente.
Há quem tenha preparo e se mantenha são.
Há quem pense no próximo e ajude, estendendo a mão.
E há quem simplesmente caia no abismo profundo da mesmice que o álcool proporciona, diariamente, e não se permita sair do buraco, sequer quando não está a tragar...

O anúncio já diz: Beba com moderação.

PS: Por favor, cuide-se.

[Jade Rosa] - 25/05/2020

*Imagem: "O absinto" de Edgar Degas, 1875.


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