Opressão sem fim

Olhou-se
no espelho: Viu medo.
Havia
uma sensação de timidez, porque como há, neste mundo, motivos para
senti-lo!
Seria
justo este temor?
O
pranto.
O
juízo feria o coração, que batia fortemente a pensar que não poderia verbalizar tal emoção. Tudo estava claro, expresso. Óbvio.
Acreditou
ter o direito de autonomia da personalidade, mas, em dado momento,
via tal capacidade amplamente restrita.
Até
que ponto estava livre para ser?
Até
quanto poderia ter?
Até
onde poderia ir?
Até
quando?
Como
pode ser assim tão belo e puro, e tão cruel e aniquilante?
Porque
arranca tantos sorrisos e tantas lágrimas, sem ser dita sequer uma
palavra?
A
dolorosa falta de dizer, justo para quem tanto fala, expressa.
Constatou
engolir o choro ser mais fácil que oprimir tal afeição.
A
eterna omissão do gritar rodeava sua mente, e deixava-a
amargamente perdida. Sem chão. Sem paz.
Lembra-se
do céu estrelado e da lua cheia por detrás dos galhos; Dos sons e
do calor atravessando o corpo fervido, despejando prazeres ambíguos.
Da
paralisia e do atordoante tremor simultâneo que causa a mistura.
Do
beijo na mancha, do cheiro no colo, da bebida derramada.
Do sorriso dos olhos.
Ao
que ouvia – o coração – ah, como era bom.
Mas
a boca balbuciava apenas frações de um querer tão profundo.
Bem
sabes que, como o ar que recolhe, o sentir está lá.
Mas
diferente do desejo, a presença está ora sim, ora não.
A
recíproca também.
A
falta de atenção gera forte incerteza: Alia-se, aqui, o medo da
existência de outro coração - que sabe existir, mas teima em negar.
Ora,
se já não te pertence o coração, não há porque justificar.
Amargo
assim.
Agri.
Já
é pouco o tempo concedido, depois de intenso entusiasmo.
O
aguardar do bom dia, muitas vezes, é apenas uma doce lembrança.
A
abraçar da noite pode se transformar para sempre em um travesseiro inanimado.
E, mesmo assim, como
se permitira crer de novo, e correr o risco de arrepender-se amargamente dessa entrega?
Lembra-se: quando já não é suave, torna-se pesado o olhar.
O
reflexo é doído.
Ainda assim, sente. Gosta. Doa-se.
Vale.
Ainda assim, sente. Gosta. Doa-se.
Vale.
Tem a imunidade baixa em tempos de crise, pois onde o amor não se permite
acontecer, o medo ganha a força.
[Jade Rosa] - 24/05/2020
*Imagem: Desespero - Edward Munch, 1892.
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