Os cárceres da vida



"Deve ser difícil ser um presidiário”.
Quem nunca tentou entender o que se passa na cabeça de um detento?
Privados da luz do dia, do sereno da noite; Da liberdade, do amor, do viver.
A mesa - que, talvez, um dia tenha sido farta - não há.
Cama, relacionamento, paz.
Não.

Todavia, esquecemos que esmagadora maioria de nós, aqui fora, em plena (?) autonomia de nossas vidas, nos submetemos à um cárcere pessoal.
E há tantos deles.

A prisão física, já supracitada, está conectada, como bem sabemos, a um delito – tenha ele acontecido ou não – pois, lamentavelmente, a justiça ainda é cega.
A estes, resta apenas esperar o tempo passar, procurando manter a sanidade mental – como que em uma quarentena.
Nos tempos atuais, sentimos – ainda que minimamente - na pele, o que é isto. E, portanto, temos consciência do quão difícil é manter esta sanidade.
Sempre é.

Existem pessoas que se aprisionam aos bens materiais.
Estas, acreditando que estão fazendo investimentos, tratam de consumir como se não houvesse amanhã. E talvez não haja. Mas esquecem-se de que, hoje mesmo, há outras formas de se sentir realizados. Omitem de si mesmo uma liberdade que está logo ali, mas não querem enxergar. 
Se confortam com a ostentação.

Há, também, a prisão psicológica.
Esta dói. Geralmente refere-se a quem teve um trauma do qual não consegue se libertar, como a perda um ente querido. Esta prisão é, não raro, denominada depressão. A tristeza vem à tona de diversas maneiras - e a fuga também. É vista, comumente, como fraqueza. Não o é. É um lamento que se cura com o tempo, carinho e sapiência – que, equivale, em grego, à “sofia”, termo este que encontra definições distintas, conforme ótica filosófica, teológica ou psicológica.

E o aprisionamento do vício?
Todos nós conhecemos um viciado: seja em cigarros, álcool, drogas, trabalho.
Independente do que seja, é abominável ver o quanto se afunda na adicção, sem temer suas perdas. E são tantas perdas! 
É a perda da própria vida, do próprio tempo. E é, normalmente, decorrência de uma escolha mal feita.

Nos atuais dias, temos ainda os prisioneiros virtuais.
Conectados - literalmente - a uma vida dentro de uma tela, procurando expor suas histórias, independente de realidade - sim, ainda há quem se expresse por inteiro - tentando provar para si e para o mundo que vivem de fato.
Que são livres. 
É um aprisionamento frouxo este, pois, ainda que levados por uma cobiça de manter as aparências, quando vivenciado sensações fortes - normalmente - esquecem que a tecnologia está a seu dispor. 
Ou, ao menos, naqueles intensos momentos.

E há, dentre tantas outras - mas não menos importantes - a prisão emocional.
Esta, da qual todos nós um dia já fomos reféns – uns por mais tempo, outros por menos – faz com que as pessoas acreditem que eram felizes quando tinham isto ou aquilo. Estão atreladas a um tempo que não volta mais. Não conseguem se desvencilhar, e se limitam para viver o hoje e o amanhã, mantendo-se trancafiados a sentimentos passados. E ouso dizer mais: Limitam outras pessoas de viverem o hoje e o amanhã.
Para estas, só há uma coisa a ser dita: Decida fazer, agora, algo que pode tornar sua vida melhor amanhã.

Sejamos livres.
Libertemo-nos.

[Jade Rosa] - 01/05/2020
*Imagem: "O pátio dos exercícios" (ou "A prisão dos condenados") - Van Gogh, 1890.

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