Tramela do dialeto do beijo.

Suave, úmida, macia.
Saiu sem rumo - raspando levemente os dentes - pelos lábios carnudos, e, sem querer, tocou os dedos que rondavam por ali. A saliva cresceu, mas era um corpo todo que tremia.
A mistura se fez cada vez mais intensa, e trouxe, vagarosamente para dentro, o que era apenas um carinho.
O sorver foi forte, deixando algumas gotas de água no canto da boca, e então outros dedos se deixaram levar pelo deleite.
O ruído do gemer vibrava por todo o interior, da garganta à ponta, e sentia no indicador a pulsação do sangue que corria e atravessava aquela foz.
Ela ainda se fazia voraz e trêmula, em busca de outro local onde pudesse se encaixar.
Encontrou nuca e pescoço, com sabor do banho tomado pela manhã, misturado com o adocicado gosto do suor de prazer.
Percorreu aquele caminho como se não houvesse mais para onde ir, com veemência e fome, fazendo arrepiar toda pele, e, ao topo, encontrou a orelha. Adentrou a brecha, e se fez explorar toda a cavidade, e deixando, em todos os pontos, rastros de um esputo cada vez mais forte e aguado.
O tremelicar da voz que vinha da garganta, junto com o sopro quente faziam com que os gemidos externos se intensificassem e, lá embaixo, as unhas fincassem com mais força na pele desnuda.
O tremelicar da voz era gemido sentido.
Recolheu-se lentamente, se permitindo sair por alguns momentos, de maneira a comparar-se a um animal que se põe a beber água.
Mas, ali, a água era deixada.
Os fios de cabelo não eram um empecilho, pois ela mesma os empurrava, e, a cada vez, tocava na pele, como que sem querer..
Saiu, então, untando aqueles lábios e indo para outros.
O momento se passou como um furacão devastador, e ao se retirar, encontrou carne ainda mais fresca, mais macia, mais úmida. Os fluidos se misturavam como pó em água, e ela passeava por todos os lados, em cada cantinho, e em movimentos quase que uniformes, faziam a mágica do jorrar mais e mais daquilo que era um licor inédito e translúcido, deixando fios pastosos entre um lugar e outro quando ela retomava à boca.
Aquela língua, embebida de prazeres carnais, agora, só queria água, para recomeçar tudo de novo.
[Jade Rosa] - 05/10/20
*Imagem: Rosa Meditativa, de Salvador Dali - 1958.
Comentários
Postar um comentário
Conta pra mim o que achou do blog. :)