Iniciação ao torturante prazer


 ...e de repente o carinho esperado virara tortura.


Toda palavra dita pelo lábio quente daquela mente intelectual, virara dor.
A poesia recitada pela língua brincalhona - agora entre dentes esfomeados por cravar-lhe a pele.
Os dedos que acariciaram transformaram-se, subitamente,  em máquina de asfixia.
O olhar carinhoso que a observara pela manhã, agora lhe dava medo e vontade de fugir.
Iria, não estivesse amarrada na cama, braços e pernas escancarados sob a fina saia de cetim branco, que não combinava com a peça da parte superior:  branca, de algodão qualquer, deixando os bicos dos seios rígidos totalmente expostos.
Ou talvez não fugisse..

Uma brincadeira - com bom tom de verdade - iniciara-se 3 horas atrás, quando optou por deitar-se e se permitir atar, depois de uma tarde de prazerosa conversa e mergulhos em olhares fulminantes.

Luzes coloridas refletiam naquele corpo que suava toda a ansiedade e receio.
Porta que abre, luz que se apaga.
Passos firmes rangiam no chão de madeira maciça.
Um vento forte e veloz toca-lhe a púbis segundos antes do ardor na parte interna da coxa, fazendo um estalo ecoar pelo cômodo.
Chicote.

O urro da surpresa - misturada ao tesão - bastou, para que ricocheteasse novamente, com outro grito prazerosamente dilacerante.

Luz que pisca. Máscara.
Tilintar sutil de chicote ao chão.

Em um milésimo de segundo, a saia é abruptamente arrancada do corpo, com força descomunal de ambas as mãos, firmes, fortes, rasgando perfeitamente o belo cetim.
Se antes não notara o esquecimento da calcinha, o gélido ar a fizera perceber sua ausência.

Luz que pisca. Inclinando-se.
Tilintar firme de chicote nas mão.

Um não escapou-lhe da boca, sem se dar conta de que já estava a receber mais e mais chibatadas, na polpa da bunda, que agora estava à mostra.
Além da ardência de cada uma delas, sentia, também, o escorrer entre as pernas e as lágrimas quentes nas laterais das têmporas.

Luz que pisca: Subindo.
Tilintar sutil de chicote ao chão.

As mãos vieram-lhe à garganta, segurando forte, com objetivo de ouvir o engasgar decorrente da falta de ar. A cada engasgada, sentia o duro membro, que roçava, endurecer mais e mais, até entrar naquela vulva aguada, doce e com cheiro de mel.
Ahh, o cheiro que subia daquela carne, como o excitava! Remeteu-o a todas as vezes que se tocara, longe dela, apenas lembrando desse aroma que fixava nas narinas, levando-o a incríveis orgasmos.

Luz que pisca. Mãos levantando suas pernas.
Estalar da lubrificação natural daquela flor deliciosa.

Com força, ia e vinha. Fortes tapas marcavam as nádegas nuas, fazendo gemidos, urros e gritos, na mistura de vozes, uma mescla de dor e prazer.
Quanto mais pedia para parar, mais bofetadas levava, e, a cada uma, apertava com mais força a amarra nos punhos.
Forte e fundo. Rápido e rápido.
Os seios sendo agarrados como massa de modelar.

Luz que pisca. Boca aberta.
Pingar de cuspe na boca aberta.

Cuspia e tampava a boca, fazendo-a engolir cada gota.
Tentativas de abrir para gemer, para pedir. Frustradas: Só abre quando ele quer.
Tira, cospe, tampa.
Agora lágrimas pretas carregadas de maquiagem escorrem pelos cantos dos olhos, que reviram de prazer quando o gozo chega, criando uma poça no lençol vermelho sangue.
Finalmente, após momentos intensos socando fundo, retira o rijo membro e permite que líquido branco banhe a simples blusa branca de algodão, deixando os bicos como os das garotas de lava-car dos filmes eróticos: Molhados, duros, à mostra.

Luz que pisca. Em pé.
Luz que acende, porta que abre.

O silêncio ofegante do orgasmo recíproco, o êxtase do momento.
Porta que abre, luz branca que acende, ele vem, carinhoso e com as vestes que a sociedade lhe impõe, soltá-la e deitar-se ao seu lado beijando-lhe os doces lábios de mel, com todo respeito - que sempre esteve presente. [Jade Rosa] - 06/04/2021 *Imagem: Maria Madalena em Êxtase, Caravaggio, 1606¹. ¹O quadro do famoso pintor foi descoberto em 2014, em uma colação privada europeia.

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