E pluribus unum¹

Cultivara uma amizade sem pretensões: era admiração e apreço; respeito e ternura.


Conversas constantes ao longo dos dias, apenas confirmavam que o intelecto dele não era superficial: informação e conhecimentos - considerados por tantos inúteis ou aleatórios - faziam parte das pautas debatidas, questionadas, explicadas e justificadas com embasamento.

Incomodou-se ao notar que a comunicação remota fora o gatilho para sentir saudade da presença.

- Passa rapidinho - foi a réplica.
Ledo engano.

Flagrava-se recapitulando momentos em que observava-o conversando com amigos e colocava a mão entre as pernas. Gesticulava, bebia um gole da cerveja gelada e, de repente, lá estava a mão de novo: agarrava com gosto o volume. Gargalhava, falava, fumava e, naturalmente, voltava os dedos na virilha, roçando com carinho em um ato instintivo.


Sentia os bicos dos peitos enrijecerem ao replicar esses momentos na memória, em casa, e se a mão chegava até o seio excitado, sentia a calcinha molhar.

A amizade era real e saudável; entretanto com o intelecto, a sagacidade e o alto grau analítico dele, não demorou a perceber que fitava-o e, assim, a frequência do carinho aumentou.
Ela fingia que olhava para os ladrilhos do chão, e cravava o olho no meio de suas pernas, apertando uma coxa na outra e sentindo o tesão correr o corpo; ele, segurava firme no zíper da calça, agarrando o membro com força, na esperança de flagrar discretamente a excitação dela.

O desejo era iminente e recíproco quando, na ocasião perfeita, o ecstasy invadiu bocas sedentas, seguidas de água descendo pelas gargantas - que, na verdade, imploravam por mãos ao redor do pescoço.

A música era alta, a batida forte e tão rápida quanto o sangue que bombeava: do coração para os membros inferiores, correndo nos vasos, artérias e veias, e parecendo se acumular cada vez mais nos órgãos sexuais, que latejavam freneticamente.

Bastou um olhar bem no fundo dos olhos, com caráter malicioso - já tomados pelo princípio ativo - para ela soltar um gemido abafado e passar a língua no lábio.
Bastou um gemido abafado com uma língua passada no lábio para jogá-la no sofá, arrancando-lhe as calças.

Sem penetrar, ouvia o chiado selvagem, que - tinha plena noção - era um gemido como nunca havia feito.

Ele, encarnado em um animal que brincava com sua presa; brutal, porém cuidadoso para não fazê-la sentir dor. Ela, incorporada na própria vadia; olho no olho, dedo na boca, língua pra fora.


O sorriso com ar perverso e o olhar com tom de depravação.

O desejo imperava no lugar.
Duro, queria entrar dentro dela, que arreganhava as pernas.
Encharcada, desejava se deliciar ao sentir enfiando lá no fundo; implorava para seu predador comê-la, enquanto mergulhava no fundo do seu olhar atroz.

Lutador como em meio a um combate, segurou-lhe os punhos acima da cabeça, e sem tocar no pau, meteu lá dentro. Escorregava para dentro e para fora, com carinho e, repentinamente, socava com força, uma, duas, três vezes, e tornava a enfiar mais lentamente. A socada forte, profunda, arrancava gritos de prazer da boca da submissa, enquanto a penetração lenta a fazia acariciar seu rosto, com olhar doce - que não demorava e se transformava em olhos virados e um novo grito, quando sentia meter novamente com força, bombando, fodendo.

Rebolava com ele lá dentro.

Um movimento rápido e ela estava de costas, com a bunda empinada, lá em cima.

Um vidro de água lubrificando bocas, um travesseiro posto no abdome mantendo a elevação perfeita.
Enfiou os dedos na boca, babando toda a saliva que havia ali, passando prazerosamente na cabeça do pau, lambuzando, para comer aquela cadela ganindo. Devagar, devagar, devagar, e carcava com força, rápido, forte, um, dois, três, e devagar, devagar, devagar…
Ela clama, suplica para ser devorada, mais e mais e mais.

O orgasmo quase vem, diversas vezes, sendo quebrado proposital, cruel e deliciosamente.
O suor escorrendo pelos corpos faz a pele ainda mais sensível deslizar uma na outra, tornando-os um só.

Aquela explosão de euforia não fora causada somente pelo psicoativo. Ali batia forte um coração que há tempos não pulsava por outrem.
Melada, sente escorrer de dentro todo o suco natural.
O pau desliza, inchado, para jorrar na bunda escancarada que rebola querendo mais.
Antes de Memento Mori, é preciso saber valorizar o Memento Vivere².

- Calma, respira, aproveita. Daqui a pouco tem mais.

Carpe diem, frui vita³.
[Jade Rosa] - 20/11/22

*Imagem: "A alegria de viver", de Henri Matisse - 1906.


Glossário (latim, tradução livre): 1 - "E pluribus unum": "Dentre muitos, um". 2- "Memento Mori" e "Memento Vivere": "Lembre-se que você vai morrer" e "Lembre-se de viver", respectivamente. 3- "Carpe diem" e "frui vita": "Aproveite o dia" e "Aproveite a vida", respectivamente.

Comentários

  1. Sem ar aqui!!!! Delícia de texto!!!

    ResponderExcluir
  2. Você e suas palavras são excitantes, consegues transmitir desejos e o querer, em cada linha do que escreve, tu és uma mulher fascinante que me encanta.

    ResponderExcluir
  3. Teus escritos são sempre carregados de erotismo, você sabe como fazer hummmmm... e isso me faz pensar, na mulher intensa que você deve ser cheia de feminilidade e sensualidade.

    Por:. Thiago, my lady

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada pelas palavras, Thiago. Você sempre um gentleman! Que eu possa continuar criando conteúdos que te agradem. Grata pela identificação. Beijos.

      Excluir

Postar um comentário

Conta pra mim o que achou do blog. :)

Mais lido no momento:

Prazer e saudade

[Im]Puras meninas de bocas salinas

O palco do prazer

Masmorra com porr@

Música com prazer em poesia

Fetiches com limites do sentimento

Cabeça latejante que não pensa

No canto da boca, no meio das pernas.

O sabor do mel.