Ruela dos sonhos concomitantes.

Era alto, a ponto de trepar-lhe e ficar sem chão; e forte como um guerreiro escandinavo, que, encostado na parede, a segurava como se fosse um vaso de flores, deixando-a completamente sem ar. Não inerte.
Passava todas as noites pela ruela onde o breu predominava, e o odor de fumaça entorpecia a mente, até interferir no vaivém dos saltos finos em pés sedosos, e no lá e cá do vestido preto, devidamente prendido do corpo, torneando aquelas curvas sensuais, onde os longos cabelos loiros roçavam pra lá e pra cá na opulenta curvatura das grandes nádegas.
Ouvira que tinha rabo quente, e estava esfomeado para (com)provar.
Sentia o membro enrijecer quando estava chegando o momento de vê-la passar: requebrando o quadril, com toda aquela pompa, cada passo que dava era orgásmico, a ponto de sentir dor. Ah, como queria - ao menos - segurá-lo com força, acariciar daquele jeitinho que o forte esguicho vai com o vento, aproveitando enquanto o cheiro dela estava no ar. Outro dia sentiu o perfume íntimo, quando se aproximou ao cruzá-la, assim, quase que por acaso. Não. O cheiro era quente, e tinha uma leve temperatura - salgada na língua. Sentiu como se fosse o dono daquela garganta tão profunda, o gosto. Imediatamente se pôs pra dentro, tocando-se vorazmente, enquanto esfregava a mão no peitoral. Corpulento, olhar infinito adentro, as longas mechas seguiam o formato daquele peito grande, suado, fazendo-se grudar. As costas, largas e delineadas como o brutamontes que era, escorriam. Brilho.
A barba grossa e bem cuidada, aí tatuagens medievais que lhe cobriam os braços - mistura de mar e terra, suavidade e guerra - faziam dele um ser ainda mais misterioso. A testa, o tempo todo franzida, o dava ar de mal. Não. Queria ser discreto, mas a chama que
queimava dentro de si sabia o que iria avistar.
Percebera que dia após dia, os bicos dos seios enrijeciam quando virava a esquina. Às vezes, com as pontas dos dedos, beliscava a si mesma, discretamente - uma coçadinha - ou os mesmo caminhavam por ali como línguas. Os olhos azuis brilhavam na penumbra, a noite era quente, e sabia que estaria mais suado que o normal, devido ao calor. Brilho. E como queria esfregar os bicos naquele óleo natural, que era cada vez mais. Fazia que não, mas via-o tentar disfarçar a protuberância nas calças de tecido grosso, camuflado.
Fitava-a num sem fim, de longe.
Ainda que sem nunca ter ouvido a voz, decidira se prostrar diante daquela desejada pele sedenta e suada.
Aproximou-se. Estava sem camisa, do jeito que gostava. Chegou mais e mais. Olhou a boca aguada, salivando, língua passando. O seio tocou o peitoral, ah.. o suor melado atravessando as vestes, enrijecendo ainda mais. O ar quente que saia da boca ia direto para dentro da dele, que ofegava sem sequer terem movido as mãos para tocar um ao outro. As fez, sim, para arrancar o pretume que a cobria, ficando por alguns instantes pendurado, pesando sobre o membro dele, que, alto, escapulia discretamente pelo cós da calça baixa, Ao escorregar o vestido, sentiu aquela parte tocar-lhe a barriga, próximo ao umbigo, que já estava molhado. Lentamente, os corpos se moviam, o umbigo sentia passar e voltar, e passar e voltar, para um lado e para o outro, em movimentos sutis…
O sutil durou pouco.
As mãos, que ainda estavam imóveis, subiram pelas linhas laterais, arranhando, passando pela barba e entrando na boca, que chupou com vontade.
As mãos, que ainda estavam imóveis, correram para trás, se enchendo com aquele pedaço de carne macia, uma em cada mão, fazendo com que se arreganhassem.
‘Ah’ foi o que ouviu, fazendo-o soltar um ‘hum’. Era noite, era vazio, mas ainda era público.
Arrancou-lhe a cargo, e, de joelhos, completou todo espaço que havia na boca. Olhava-o com os olhos azuis, sorrindo, divertindo-se com aquele brinquedo que tanto queria. Passava no rosto, nos lábios, se divertia, as mãos corriam junto com boca e língua.
Em pé, pernas tremendo as enormes mãos cravavam na parede, em um frenesi de arrepiar todos os pelos do corpo. Como quis, desejou e se tocou pensando nesse momento, e jamais imaginou que seria essa energia correndo velozmente pelo corpo.
O ar sai de uma boca à outra, sincronia pervertidamente bela.
Enfim, agarrou-lhe os cabelos, beijando a boca, com línguas correndo, esfomeadas por todos os cantos, enquanto tocavam-se um ao outro. “Ah”, “Hum”, corpos suados, estalos e splashes, o som corporal do esfregar, mais uma vez, encheu a mão naquela raba fervente, trazendo-a ao colo, as pernas escancaradas nas laterais
do largo corpo.
Era alto, a ponto de trepar-lhe e ficar sem chão; e forte como um guerreiro escandinavo, que, encostado na parede, a segurava como se fosse um vaso de flores, deixando-a completamente sem ar. Não inerte.
O gozo simultâneo e delirante fez com que acordassem ao mesmo tempo, e pensassem, um no outro: Seria um sonho sonhado junto, desses, para virar realidade?
Aqueles dois desconhecidos se cruzando, todos os dias, naquela rua escura - sem trocar uma palavra, com tanto desejo de sentir, falar, gozar e amar..
Sinta. Fale. Goze. Ame.
{Jade Rosa} - 06/02/21
*Imagem: "O beijo", Pablo Picasso - 1969
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