Nem sempre dois.

 


O ar frio da manhã Outonal fez aquele coração quente

despertar.

Gélido, lacerava vias, invadindo a carcaça que padecia

inerte, ainda que entre quatro paredes nuas de cor.

Sequer tremulava.
O corpo? Inanimado.

O fôlego lhe faltava, após desmesurada tortura na noite que se

passara.
Esperou, por copioso período, algo desenrolar, porém sentia

apenas a cortante atmosfera lúgubre.


A luz do sol - que nascia brilhante e laranja - ofuscava os olhos verdes de uma pele branca, e cintilava as mechas pretas e volumosas.


Percebera pois que pudor lhe faltara: não sentia vestes na pele do corpo. O vento tocava coxas agora inertes e meladas com um líquido que estivera quente há alguns instantes, e agora corria em fios pelas virilhas, ao som do vento silencioso na barulhenta psiquê, atravessando naquele estreito espaço excitado há tão pouco.


Lentamente, a mente se manifestava; flashes dos quatro pés lhe ocupavam o pensar, com uma mistura de timidez e vontade. O dançar, conseguinte, dos 6 pés rodopiando pelo cômodo simplório, em um ritmo sem compasso, com cada passo dado do seu jeito, sem regras e pudores.


A garganta seca doía e arranhava, com gosto de carne crua , nua e quente. Sabores variados mas sempre doces, que alteravam-se à medida que o tempo corria. Essa garganta seca pedia água.
Pedia mais.


Lábios adocicados e macios tinham sede não d´água, mas daquele paladar que posteriormente chamou de ostra perfeita, fechada mas densa, delicada e corrompida pelo toque de lábios selvagens e sutis em uma noite qualquer.


Lembrava e escorria.

[Jade Rosa] - 03/12/20 *Imagem: "O nascimento de Vênus" de Sandro Botticelli, 1485-1486.

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