Ela: pele de donzela.

 



    Ruídos, aromas urbanos, caos, calor.
    Ambiente pouco propício para a pestana que planejara: Ainda assim, o sono tomava conta do pensamento inquieto e desordenado, que se seguira após manhã de turbulentas e difíceis decisões.

    Em questão de segundos a sonolência passou: Um misto de quietude e frenesi tomou conta da mente e do corpo - e do membro.
         Testemunhara a saia preta, curta, e plissada subir, ao inclinar-se sobre a mesa de pinus maciço em busca de algo que a ele não interessava, exibindo o que contemplou por segundos a polpa do que chamava de ‘rabo’.
       Seguiu-se, então, o que inconscientemente desejava: Um movimento levemente desastrado daquela menina-mulher, fez a Cartier esferográfica rolar na mesa, como uma sequência de dominós, perfeitamente enfileirados, empurrando uns aos outros, e findar onde aquele ser - tão perfeitamente volúpio - se agachasse, com as longas pernas completamente flexionadas e semi abertas, mostrando a ausência de tecido íntimo. Simultaneamente, a camisa branca, de botões, levemente revelava seios rígidos, com as pontas saltadas e rosadas. 
         Os batimentos aceleraram, fazendo sangue correr rapidamente ao cérebro puro -  puto - e, logo, também, ao membro, que se encontrava, até então, relaxado - e não crescia há tempos, fora do casamento falido que levava, por pura comiseração à companheira que, longe dali, saciava desejos com outro sujeito -  um tanto quanto mais corpulento.        O tempo passou morosa e paulatinamente, o pulsar só fazia crescer, enquanto tentava, fracassadamente, manter o auto controle.
    Naquela posição, de cócora, a maldita - ah, a bendita... -  caneta em mãos, ergueu a cabeça. Os cabelos sutilmente caiam nas laterais do rosto delicado. Olhar profundo, castanho, e impetuoso, sobre os óculos de aros pretos, em frente à parede branca, que apoiava a mesa marrom, mordiscou o lábio avermelhado, revelando o desejo nunca antes percebido - por ele - porém, inerte..
    O movimento de afastar um joelho do outro, exibiu um brilho do líquido que, em fio, já alcançava o piso.
    Acreditou, então - ou, ao menos, quis - que sua mente perturbada o pregava uma peça.
    Levantou. Girou, saia rodada dançou. Cartier sobre a mesa. Inclinação a 90 graus.
    Alçou a veste com os dedos delicados, exibindo tudo que queria oferecer.
    Era rabo, era líquido; era pingar e escorrer.
    A curvatura das costas sob a seda branca era visivelmente vergada. Cabeça no alto, como pipa empinada.
         Meneou o quadril para um lado, depois para o outro. E mais. E mais. Rabeou.
    Predadora, girou apenas a cabeça, olhando-o por sobre os ombros.
    Remexendo, rabeando, requebrando, rebolando.
    Permanecia atônito, a observar aquela cena digna de um filme picante hollywoodiano, procurando manter a postura de líder, e a fidelidade de marido.     Acariciou entre as pernas, procurando manter tudo em seus devidos lugares.     Insucesso.
    Inclinou-se mais. E mais. E elevou-se sobre os saltos finos, com pés quase nus nas tiras de couro.
    Girou, e, ainda dançando uma melodia que tocava apenas dentro de si, atravessou o espaço vazio, que um dia fora abismo, e agora percebera quão breve e finito.
    A insegurança das próprias mãos tocando a proeminência entre as pernas deixava-o desconfortável. Passou, em questão de segundos, quando o ataque aconteceu. A proximidade daquela bomba em forma de mulher exalava aroma do fio esbranquiçado que carimbara o chão de granito, e agora se aproximava do rosto e do corpo que ebulia em calor e desejo.
    Alguns poucos centímetros, uma pernas elevou-se, deixando a ponta do sapato sobre as coxas: Oferecia carne úmida para ser degustada, lambida e sugada.
    Perplexo, ainda houve tempo para observar a mão suave desatar violentamente os dois lados da camisa de seda branca, apresentando as mamas por completo, e um brilho da jóia que carregava no delicado no umbigo.
    Tornou a rebolar, enquanto um zíper abria, após outro botão se desatar. Boca e língua ferozmente se ocuparam, em um misto de gemidos, estalos e sucções.
    Despido de calças de um lado, o rebolar com saias erguidas do outro; agachar, e, de novo, rebolar.
         Muita dança, cadeira balança, penetração, ais, hums.     Mãos com longas unhas tapavam olhos; boca consumindo deliberadamente mamilos enrijecidos. Voz suave e dominadora, decretando o que fazia, como, onde.
    Domina. Ela tem pele de donzela.
    Empina. Introduz. Geme. Aprofunda. Geme. Tirar e colocar. Geme. Espirra, goteja, lambuza.
    Sorrir, vestir, despedir, ir.     O cochilo, agora, indiscutivelmente será mais prazeroso.
    Na manhã seguinte, papéis e Cartier à mesa, a aguardar rubricas.

(E, por que não, outro movimento desastrado?)
[Jade Rosa] - 30/12/20  *Imagem: Judit I - Gustav Klint, 1901.


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